Lá na primeira versão do post “Os mano pira com estrangeiras”, num antigo blog no WordPress que me serviu de primeiro passo, lembro de uma leva de comentários incluindo os termos “meu namorado indiano”, “paquera indiano”, noivo (?). Em muitos dos comentários, mal se sabia quando usar o “ç” e a letra “s”. Eu só pensava, sério mesmo? Não vou perder meu tempo respondendo a estes comentários, vão aprender português primeiro.
Só para deixar claro, vivi na Índia em 2012 e em outros 5 países, mais viagens a outros 20. Mal tinha eu noção de que existe um universo de indianetes que “conhecem”, vamos botar entre aspas mesmo, um “namorado” indiano pela internet. As indianetes passam horas do seu dia assistindo a novelas, youtubers, clipes de Bollywood, yoga, meditação, acendendo incensos e fazem uma salada mista de “cultura oriental” com todo tipo de fantasias que incluem filme do Aladin, clipe do É o Tchan, cenas de novela; um pouco de tudo, menos da realidade.
“Ah, mas eu conheci um namorado indiano na internet, no bate-papo, na plataforma X,Y,Z para praticar inglês, etc.” Seguindo as descrições românticas: “Ele é lindo, maravilhoso, me manda mensagens, etc.” Pura balela! “Ah, mas no meu caso é diferente, ele me ama, já me pediu em casamento.” Na maioria dos casos, são pilantras querendo se aproveitar da inocência ou ignorância de mulheres com baixo nível de cultura, que não tem a mínima ciência nem de como as coisas funcionam na Índia nem do que é um relacionamento com alguém de uma cultura que em nada casa com os valores ocidentais. Não confunda a vida real na Índia com os filmes de Bollywood, filmes vendem fantasias, e só.
Os tais dos namorados indianos – assim como turcos, marroquinos, egípcios, e outras nacionalidades do Oriente – pedem nudes, pedem dinheiro e inventam todo tipo de estórias para extorquir as tias fogosas, normalmente acima dos 40 anos, divorciadas, carentes a ponto de um sopro soar ventania. Homem que presta não pede dinheiro, e naquelas partes do mundo, nenhuma família daria a filha para casar com um “nóia” perdido na vida. Eu nem Tinder uso e não entendo por que perder tempo se expondo a alguém do outro lado do mundo que não conhece. Quem garante que não é um nigeriano ou ganense administrando perfis falsos? É uma possibilidade.
Se eu pedisse nudes a uma indiana – tal qual a uma turca, marroquina, egípcia, etc. – já teria confusão com a família dela. Com estrangeiras, muitos homens indianos tendem a se comportar de modos com os quais jamais fariam com alguma indiana, inclusive solicitações de amizade em redes sociais. Já não conheci muitas indianas vivendo na Índia e aposto que nenhuma delas fica caçando rola na internet. E até mesmo o Kama Sutra menciona as divorciadas, as viúvas, as mulheres de casta inferior (e que casta uma estrangeira tem?) e aquelas cujo marido vive viajando como as mulheres fáceis para um pecadilho. E adaptando ao século XXI, vamos acrescentar as fofoqueiras de Whatsapp, as tias fogosas paquerando na internet, no Tinder e nos sites de encontro. Se duvida, aqui segue a foto da página de uma edição que comprei em Jaisalmer, com a tradução destacada logo abaixo – Kama Sutra: Amorous Man & Sensuous Woman (Kama Sutra: Homem Amoroso e Mulher Sensual).
“E quem são as mulheres que são facilmente seduzidas? O Kama Sutra lista os seguintes tipos de mulheres: aquelas que ficam nas portas de suas casas; as que espiam o que se passa na rua; as que frequentemente fofocam na casa de vizinhos; aquelas que cravam os olhos nos homens passando; as mulheres mensageiras; as que ficam de olhares com os homens; aquela cujo marido se envolveu com outra sem motivo; aquela que detesta o marido; a que não tem filhos; a de casta indefinida; a que procura um homem à altura de seu nível intelectual; aquela cujo marido está sempre viajando; aquela que não é tratada com o respeito que merece. E também as que são preguiçosas, covardes, vulgares, as fedorentas, doentes e velhas. Se você estiver procurando por um pecadilho, você deve procurar por uma cortesã, uma viúva, ou uma divorciada, ou até mesmo uma mulher de casta inferior.”
Por tradição, o Kama Sutra é algo reservado às castas do grupo brâmane, que na sociedade hindu exerce o papel de elite intelectual, tem sido por séculos a única maneira de se falar de sexo (e de explicar aos noivos que estão se casando como se faz) numa sociedade em que nem se toca neste assunto no cotidiano. Não é apenas um manual de posições sexuais, é na verdade um manual de comportamento para o antes, o durante e o depois; inclusive dando dicas para quem quer pular a cerca. De uma forma ou de outra, é a referência para como abordar a sexualidade no imaginário da sociedade indiana.
Tias fogosas, indianetes, parem de assistir a novelas e de perder tempo com namoros virtuais. Saibam vocês que as indianas não têm as liberdades que vocês estão acostumadas a ter. Tanta coisa que no cotidiano de vocês são meros hábitos, na Índia são tabus inquestionáveis. Beber álcool, fumar cigarro, usar roupas curtas, liberdade de ir e vir são apenas alguns exemplos. Você aceitaria um homem lhe dizendo o que vestir, o que você pode e não pode fazer? Sério mesmo? E no caso de uma família indiana, os palpites também virão da sogra, do sogro, do cunhado, das cunhadas, do cachorro e cia. A vida de vocês na Índia nada terá a ver com ficar o dia todo dançando músicas de Bollywood, mexendo os braços, ombros e cabeças para balançar quilos de ouro.
O casamento na Índia costuma ser arranjado pela família dos noivos e todos os detalhes contam desde o nível social, nível de cultura, casta, dieta, religião, e tudo o mais que as famílias considerem importante. E é a família da noiva que costuma pagar o dote e as despesas do casamento. Tem brasileiras casadas com indianos, mas não vá esperando que uma paquera em bate-papo resulte alguma coisa. Na cabeça de 99,99999% dos indianos, não existe casamento grátis, ou seja, sem dote, sem conversar com os pais da noiva e provar que é um bom partido. Você tem que saber exigir o seu ouro e mostrar o seu valor, porém, o que a família dele espera de uma nora?
O passaporte brasileiro vale ouro
Além de extorquir sua grana, o pilantra pode também estar de olho no passaporte brasileiro, que hoje é aceito em 158 países sem visto a propósito de turismo, inclusive na Europa Ocidental e dentro dos países do Acordo Schengen. Com um passaporte indiano, você precisa de visto para pelo menos uns 150 países, mais visto de trânsito para cada aeroporto em que o vôo faz escala, além da burocracia indiana que é um buraco negro. E qualquer um pode ter “cara de brasileiro”, o que torna mais plausível que imaginar um indiano carregando um passaporte argentino. Além de Brasil e Argentina, que outro país de terceiro mundo tem passaporte bom?
Outra coisa a observar, a diáspora indiana é numerosa em todo o mundo. Mesmo que o boy magia esteja interessado somente em casar para ter acesso a um bom passaporte, há comunidades indianas nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália, na Nova Zelândia, no Reino Unido e nos países mais ricos da Europa Ocidental. Por que ele não vai procurar uma noiva de família indiana nestes países?
Se eu não estou enganado, o passaporte indiano também indica se a pessoa é casada ou não. Se o picareta for casado, não imagine que vá se separar numa boa, pois normalmente este processo envolve a devolução do valor do dote com correção monetária à família da ex-mulher, e talvez outros custos relacionados às despesas do casamento. Nada é simples na burocracia indiana, e acordo de casamento não é como comprar pão na padaria, até crime de honra pode acontecer.
Em português, o melhor canal que encontrei no Youtube para este tópico é o Sobrevivendo na Turquia, que expões casos de brasileiras que tiveram ou tem relacionamentos com indianos e outras nacionalidades do Oriente. Assisti a algumas dezenas de vídeos do canal e quem já morou nos países apresentados logo reconhece os frequentes choques culturais e, nos casos mais graves, violência doméstica, cárcere privado e crime de honra. Casamentos entre culturas que não se combinam não costumam dar certo, e não são opiniões nem decisões no embalo emocional que vão mudar costumes de séculos, quando não de milênios. Parem de assistir a novelas, porra! E virtualmente, as formas de enganar vão das fotos falsas a filtros que tornam a pessoa irreconhecível no cara a cara.
Originally posted 2020-12-05 23:27:28.