Como meio de agradecer a todas as dicas que recebi antes, durante e depois das viagens que fiz pelo mundo, compilei informações para ajudar mochileiros a planejarem suas viagens. Planejamento faz toda a diferença para quem quer economizar e aproveitar o que cada lugar tem de único, logo, não subestime a importância de pesquisar por toda informação possível.
Meu primeiro mochilão, fiz com menos de 2 mil dólares visitando 11 países no centro e leste da Europa, ainda numa época em que o dólar estava na casa dos R$ 3,00 e o euro abaixo dos R$ 4,00. Faz tempo… Estava nos meus 20 e poucos anos, tudo era festa e diversão. Então, abrir mão do conforto em prol de experiências foi uma decisão fácil de tomar. Só me arrependo de não ter feito isto mais cedo.
E é claro que perrengues e surpresas no meio do caminho rendem histórias, as quais nunca podem faltar no roteiro de um mochileiro. E se eu estiver nos 30 ou 40 anos? Se for o seu caso, a pergunta que faço é: você está disposto a abrir mão do conforto para poder viajar mais? Ou poder viajar com o dinheiro que tem?
Sem dúvida nenhuma, a Europa é o melhor continente para fazer um mochilão. Afinal, a distância entre os paises é curta, excelente infraestrutura, segurança e boas opções de transporte. E há opções para todos os gostos e orçamentos, inclusive para quem está viajando com o dinheiro contado. Para nós brasileiros, é o equivalente a se mover de um estado a outro. Como o Brasil tem acordo de isenção de visto para turismo com quase todos os países europeus, é possível permanecer por até 90 dias sem visto, inclusive dentro do espaço Schengen.
Como planejar um mochilão na Europa?
Existem diferentes maneiras de planejar um mochilão na Europa. Uma opção é comprar um Eurail Pass para viajar de trem como quiser em 33 países ou apenas nos países que você desejar, já que estações de trem costumam ficar no centro da cidade ou numa área importante de onde dá de circular para as atrações do local. Com o Eurail Pass, basta ir a uma estação de trem a hora que você desejar mudar de cidade e partir para o próximo destino. Para uma viagem mais espontânea, é a melhor opção por não precisar se estressar com rotas, horários e preços das passagens.
Outra opção para mochilar pela Europa é comprar passagens áereas low cost através de empresas como a Ryanair, a easyJet e Wizzair, combinando com viagens de ônibus via empresas como a Eurolines e a FlixBus. Contudo, cabe lembrar que as companhias low cost costumam fazer vôos em aeroportos longe do centro da cidade, o que acaba tomando tempo e dinheiro para pagar os custos de transporte. Além disto, as companhias low cost normalmente permitem apenas 1 mochila como bagagem se cobrar taxa extra e pode haver restrições de peso da bagagem. Ainda assim, as passagens podem custar barato. Eu já cheguei a pagar 45 euros de Zurich a Berlim, por exemplo.
Qual é a melhor época para fazer mochilão na Europa?
A melhor época para fazer mochilão pela Europa é no verão, entre junho e a primeira metade de setembro. Neste período, é possível viajar com uma bagagem mais leve, ir vestido de bermuda e chinelo durante as visitas pelas cidades e aproveitar os dias de sol no velho continente. E no hemisfério norte, o sol se põe mais tarde, às 21:00h ou até às 23:00h se for mais ao norte da Europa.
O verão é uma época de alta temporada na maioria dos destinos mais visitados na Europa, então, é esperado que aumentem os preços das hospedagens, das passagens e dos bilhetes nas atrações, que as filas sejam maiores nas cidades mais turísticas. Se não reservar acomodações e comprar passagens com antecedência, há grandes chances de não conseguir comprar após as opções esgotarem.
No inverno, entre dezembro e março, os preços de passagens, acomodações e entradas nas atrações tendem a estar mais baratos nas cidades que estão em baixa temporada. Contudo, o frio demanda mais roupas na bagagem e uma mochila não será o suficiente.
Se for planejar um mochilão fora do verão, vale considerar os períodos de primavera (de março a junho) e outono (de setembro a dezembro). Nestas épocas, é possível encontrar acomodações a preços razoáveis e visitar as principais atrações sem longas filas. Ao planejar sua viagem, lembre-se que nas datas como a Páscoa e outros feriados importantes, as passagens se esgotam com antecedência e atrações turísticas s recebem maior número de visitas.
O que levar num mochilão?
Para viagens de curta duração, dá para pensar em ir de mochila e mala desde que você não visite muitas cidades. Agora, se você for mochilar por toda a Europa, seja prático na bagagem levando somente o essencial: roupas, calçados, itens de banho e higiene, celular, câmera fotográfica. Aconselho evitar ao máximo levar jeans pelo peso e por ocuparem espaço na mala, além de levar mais tempo para lavar e secar. Camisetas e bermudas mais leves, aquelas de usar na praia, são as mais práticas para levar na bagagem. As camisas pólo também são práticas, pois não amassam, são fáceis de dobrar e passar a ferro.
Para reduzir o volume na bagagem, a toalha de secagem rápida é um item prático de levar num mochilão e pode secar rapidamente tanto num quarto de hostel quanto num acampamento. Quanto a calçados, recomendo levar um par de tênis e, como reserva, alpargatas e chinelos servem em caso de emergência.
Se você já tem uma boa garrafa d’água que caiba na sua mochila, vale levar. Caso contrário, compre água na cidade e vá abastecendo em bicas locais quando possível. Há cidades onde é possível acessar água de bicas locais enquanto em outras é pura roubada. Observe os locais e verifique se não há nenhum risco.
Caso você faça um mochilão no inverno, entre dezembro e março, a bagagem será mais pesada e as roupas de inverno ocupam muito mais espaço. Camisas e calças térmicas ajudam a reduzir um pouco a bagagem, todavia, apenas roupa térmica não são suficientes para temperaturas de -10 ºC, menos ainda para -20 ºC e -30 ºC que são comuns no Leste Europeu. É inevitável nesta época levar jaquetas, blusas, cachecol e luvas. Para os invernos mais rigorosos, você vai precisar providenciar casacos de pele ou de pena de ganso assim que chegar ao país. Mesmo na primavera e no outono, o clima na Europa tende a ser frio, o que demanda incluir jaquetas e blusas na bagagem.
Quanto custa um mochilão pela Europa?
Quanto você vai gastar fazendo um mochilão na Europa depende, pois o custo varia conforme os países que estiverem no seu roteiro, as atividades que você fizer durante as viagens, a frequência com que você vair sair e comer fora, além da duração da viagem. Os preços de hospedagem variam conforme o local, a sazonalidade e o nível de conforto. Um hostel barato pode custar em torno de 10 euros por noite, 15 euros ou 20 euros, ou até 3 vezes mais, dependendo da cidade.
Para ter um idéia do custo médio na Europa, faz sentido separar as regiões do continente com base nos salários e custo de vida locais, de acordo com a divisão abaixo:
- Leste Europeu ( €150 a €800 por mês): República Tcheca, Eslovênia, Eslováquia, Polônia, Ucrânia, Bielorússia, Sérvia, Bósnia, Croácia, Montenegro, Albânia, Bulgária, Romênia.
- Centro e Norte da Europa (€3.000 a € 6.000 por mês): França, Alemanha, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Lichtenstein, Reino Unido, Irlanda, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Noruega, Lituânia, Letônia e Estônia.
- Sul da Europa (€800 a €2000 por mês): Portugal, Espanha, Itália, Malta, Grécia.
Estas médias estão baseadas nos salários locais, apenas para ter um noção do custo de vida. Como viajante, o seu gasto diário com transporte, acomodação, comida e eventuais atividades tende a ser 2 ou 3 vezes maior. Se considerarmos a Turquia, aí vale considerar roteiros partindo dos Bálcãs como da Bulgária ou da Bósnia.
Cabe lembrar que cada país tem suas regras de imigração e leis para turismo, que incluem um orçamento diário mínimo. Este orçamento mínimo em Portugal pode ser de 60 euros por dia enquanto que na Suíça pode ser de 100 francos suíços (o equivalente a 100 euros) por dia. Vale sempre veriificar nas fontes oficiais da União Européia e dos países que você vai visitar.
Logo, um mochilão passando por países caros como Suíça, Noruega, Dinamarca, Suécia, Finlândia e Islândia vai inflar o seu orçamento. Para viajantes buscando destinos e opções mais baratos, vale focar o roteiro no Leste Europeu. Portugal é mais caro que o Leste Europeu, mas mais barato que os outros países da Europa Ocidental.
Para os mochileiros querendo economizar, prolongar a estadia em países com menor custo de vida é uma alternativa para organizar roteiros e atividades interessantes gastando menos. Outra opção para viajar barato é aproveitar oportunidades de intercâmbio e voluntariado que podem incluir acomodação. Plataformas como o Couchsurfing e Worldpackers também são opções para acomodação mais acessível. Aos que possuem cidadania em países que participam de programa work & holiday, pode ser uma excelente oportunidade de fazer dinheiro durante a viagem.
Qual a melhor mochila para um mochilão?
O melhor tipo de mochila para um mochilão depende do tempo de viagem e do volume da sua bagagem. Para viagens curtas de alguns dias de duração, não há problema em carregar uma mala e uma pequena mochila de 30 litros. Contudo, para um mochilão de 20 dias, 30 dias ou mais, o melhor é levar tudo dentro de uma mochila grande de 60 litros, 70 litros ou 80 litros.
Ao longo da viagem, serão quilômetros de caminhadas, ônibus, trem, caronas, chegas e saídas de hostels, mudanças de casa e dezenas de imprevistos. Carregar uma mochila para todo lado vai render cansaço, umas dores nos ombros e nas costas. Leve apenas o essencial – roupas, equipamentos eletrônicos, itens de banho e higiene – caso você esteja planejando um roteiro atravessando diferentes países. Para quem está planejando mochilões mais longos, também é essencial estar fisicamente preparado para a jornada.
É seguro viajar pela Europa?
Comparando ao que estamos acostumados no Brasil, é ridículo fazer qualquer comparação em segurança pública. Tanto no Leste Europeu quanto na Europa Ocidental, eu me sinto seguro de uma forma que não se vê na América Latina. Entre todos os lugares que visitei, a única cidade na Europa que eu senti necessidade de tomar mais cuidado foi Paris, notei uma grande presença de batedores de carteira e todo tipo de malandros nos arredores das atrações turísiticas.
Para viajantes na Europa, o maior cuidado a tomar é com os batedores de carteira e golpistas que vivem de olho em turistas, que normalmente carregam quantia de dinheiro maior que qualquer cidadão local. Cidades que recebem milhões de turistas, a exemplo de Barcelona, Londres, Paris e Veneza são prato cheio para pilantras e malandros querendo dinheiro fácil.
Como em qualquer lugar do mundo, os batedores de carteira se concentram nos lugares mais movimentados como estações de metrô, de trem, rodoviárias, bares, boates e nos arredores das atrações turísticas. Longe de serem pobres coitados, são malandros que roubam para ganhar o máximo de dinheiro possível e são muito hábeis em furtar.
Eu nunca fui roubado, tomando o cuidado e não dando conversa a pedintes são suficientes. Mochilas fechadas, calças e carteiras anti-furto são opções para dificultar a vida dos ladrões. Sempre ter um cartão-reserva ou outro meio de pagamento para evitar perrengues com banco em caso de furto.
No Leste Europeu, há chances de você se deparar com policiais corruptos como aconteceu comigo na Ucrânia ao atravessar a fronteira de ônibus. Anote o número da embaixada do Brasil e insista em ligar para a embaixada, melhor ainda se você tiver conhecidos no país, o que inibe a criatividade deles em inventar histórias como “seu passaporte parece falso’ ou “tem certeza que você não precisa de visto?”.. Não paguei nenhum centavo em propina, mas precisei levar no jogo de cintura até eles me verem como um custo de oportunidade o tempo perdido comigo.
Se eu fosse planejar o meu primeiro mochilão hoje, eu levaria o menor volume de bagagem possível, pois nas andanças de uma cidade para outra não é prático ficar carregando coisas na mão.
Originally posted 2023-09-10 21:14:25.