O que foi o Holodomor?
Em ucraniano, o termo Holodomor (Голодомор) é composto pelas palavras “holod” (Голод) que significa fome e “mor” (Mор) que é uma abreviação do verbo “moryty”, traduzido como cansar. Como evento histórico, o Holodomor se refere a uma catástrofe deliberada e politicamente projetada que aconteceu na Ucrânia e no norte do Cáucaso (sul da Rússia na divisa com a Geórgia e Azerbaijão) em 1932-33.
Foi uma brutal escassez de comida, causada artificialmente, que matou entre 7 e 11 milhões de pessoas na Ucrânia sob o comando de Stálin. As estatísticas são inconsistentes, uma vez que os corpos eram enterrados aos montes em valas comuns.
Independente dos números, o genocídio deixou traumas na Ucrânia, já que quase todos ucranianos ou teve um familiar que sobreviveu ou que morreu durante o Holodomor. Um crime cujo paralelo é o Holocausto e um dos melhores exemplos da natureza totalitária do regime soviético, que matou em torno de 20 milhões de pessoas.
Por décadas, o genocídio na Ucrânia foi negado e permaneceu desconhecido da opinião pública. Testemunhas da tragédia eram ridicularizadas, rejeitadas e acusadas de propaganda contra o regime soviético.
Durante a União Soviética, conversas sobre o Holodomor eram banidas e retratadas como falsificação da história. A escassez de comida em massa foi mantida como segredo de estado até o fim do regime soviético. Apenas nos anos 1980 que o Holodomor ganhou mais atenção, enquanto o socialismo soviético dava seus primeiros sinais de colapso.
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Como começou o Holodomor?
Em 1928, Stálin introduziu o programa de coletivização agrícola, que forçou os agricultores a ceder suas terras para trabalhar nas fazendas recém-estatizadas. Num sentido mais amplo, o genocídio na Ucrânia começou em 1929 através da deportação massiva de fazendeiros bem-sucedidos; seguida de execuções de lideranças religiosas, intelectuais e culturais.
Importante observar que o solo ucraniano é fértil e o país vem sendo o celeiro da Europa por séculos. O que explicaria agricultores morrendo de fome no maior produtor de grãos na Europa? Como muitos agricultores ucranianos rejeitaram a ideia de trabalhar em fazendas coletivas, Stálin ordenou ataques brutais aos fazendeiros bem-sucedidos (chamados de kulaks em russo). Qualquer oposição era tratada como inimiga do regime soviético.
Durante a coletivização, 1,5 milhão de ucranianos foram expulsos de suas casas e deportados para áreas remotas como a Sibéria sem abrigo e comida (inclusivo no inverno). Trabalhando como escravos, os opositores presos na Sibéria produziam matérias-primas que seriam exportadas ao Ocidente.
Em 1932-33, o governo soviético aumentou exageradamente as cotas de produção da Ucrânia de tal forma que não fossem alcançadas. Por que será? A fome da população intensificou a partir do decreto autorizando prisões e execuções de qualquer cidadão pego com comida das fazendas estatais.
Bloqueios militares foram levantados ao redor dos vilarejos rurais e o transporte de alimentos aos vilarejos foi bloqueado. Brigadas do Partido Comunista levaram toda a comida dos vilarejos e as fronteiras da Ucrânia foram fechadas.
Naquela época, 80% da população ucraniana vivia na zona rural e tais bloqueios afetaram duramente os agricultores. Atacando a base da sociedade ucraniana, a mente insana do Stálin buscou “ensinar uma lição” a qualquer que se opusesse à coletivização das terras.
1933 foi o pico da escassez de comida, 7 milhões de mortos na Ucrânia, quase 30% eram crianças menores de 10 anos. Cerca de 4 milhões de mortes são atribuídas à fome artificialmente causada; sem incluir as mortes por causas relacionadas à inanição, execuções e deportações.
Ao mesmo tempo, Stálin negava a fome em massa enquanto toneladas de grãos eram exportadas da URSS (ver gráfico abaixo). Seu plano de modernizar a União Soviética em 5 anos dependia de acordos comerciais com as nações do Ocidente, inclusive dos grãos da Ucrânia em troca de produtos manufaturados. Tal fato explica a passividade do Ocidente em relação ao Holodomor.
Os grãos eram, se não a única, uma das poucas opções de exportação da URSS. Na lógica insana do Stálin, a coletivização era uma peça-chave para controlar a produção agrícola e aumentar as exportações de grãos.
Agricultores ucranianos foram rotulados por Stálin como baderneiros. E a coletivização era a solução prática para quebrar os pequenos e médios agricultores, assim como a resistência destes. A escassez artificial de comida não ocorreu somente na Ucrânia, mas foi lá onde a proporção de mortes atingiu uma escala massiva. Onde mais na URSS aconteceu algo similar?
Lugar para visitar em Kiev
National Museum Holodomor Victims Memorial
Este museu em Kiev visa a promover o conhecimento e informações acerca do Holodomor através de exibições, pesquisa, filmes e eventos. No seu site, alguns conteúdos estão em inglês, incluindo filmes, fotos e documentos. Abre diariamente das 10:00 h às 18:00 h. Excursões estão disponíveis em inglês, ucraniano e russo. Fica na Rua Lavrska, 3 – perto da estação de metrô Arsenalna (Арсенальна).
Socialismo e nazismo, o que eles têm em comum?
Antes da II Guerra, o governo soviético já matava aos milhares, como demonstrado no Holodomor. Ninguém sabe exatamente quantos morreram sob o socialismo soviético.
Enquanto os símbolos nazistas carregam forte imagem negativa, o comunismo permanece bem aceito ao redor do mundo; incluindo amplos setores da mídia e da academia. Apesar de todas as mortes causadas por regimes comunistas (100 milhões), os símbolos soviéticos não são negativamente rotulados.
Ainda que a URSS tenha se declarado oficialmente anti-nazista, comunismo e nazismo compartem algumas ideias, a começar pela utopia de alcançar um “novo mundo” que se tornaria realidade depois de eliminar certos segmentos sociais ou classes; quem quer que fosse denominado de “lixo social”.
Detrás da ideia de igualdade, harmonia, revolução e qualquer outra promessa utópica; comunismo e nazismo envolveram uma engenharia social em larga escala para destruir estruturas sociais atacando os segmentos influentes. Ambos foram iniciativas criminais que mataram milhares de cidadãos em escala industrial; atacando as vítimas por ridicularizações, humilhações e assassinatos.
Através da engenharia social, seria formado um novo homem, uma nova sociedade, um novo mundo, etc…. que funcione diferente e corrija a natureza humana, se assim podemos falar. Ambos os regimes ambicionaram criar uma nova sociedade recusando a natureza humana como é, valendo-se de base científica.
Como descrito por Françoise Thom no documentário Soviet Story: “O nazismo se baseva em falsa biologia; o marxismo em falsa sociologia.” Os soviéticos assassinaram pela noção de conflito de classes, enquanto que os nazistas pela noção de superioridade racial. Mas um assassinato em massa é um assassinato em massa.
Hitler saiu dos trilhos marxistas assim que decidiu atacar os judeus, ciganos, testemunhas de Jeová, homossexuais; em vez de uma classe social em particular. Mas não podemos ignorar que Goebbels (o arquiteto da propaganda nazista) comparava Hitler e Lenin como grandes personalidades em seus discursos no início do regime nazista.
Também é interessante observar como ambos os regimes usaram táticas de propaganda similares para promover seu “novo mundo”: onde todos estão sorridentes, são loiros, sem judeus e quem quer que sejam os “lixos sociais”.
Depois da II Guerra, deportações, torturas e campos de concentração – os gulags – permaneceram rotineiros na URSS, e pouco se fala a respeito.
Originally posted 2018-01-07 20:11:34.